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Há muitos momentos terríveis na vida dos pais de crianças pequenas –e, é claro que não vou enganá-los, há momentos bons também. Um dos mais angustiantes é o da reunião escolar.

Vai ser pior se fizerem você se sentar nas minicadeiras das crianças. Vai ser pior se as minicadeiras estiverem dispostas em roda. E fatalmente uma das duas coisas vai acabar acontecendo.

A professora vai expor diretrizes amplas da escola em relação ao ensino infantil. Alguém vai levantar a mão pra questionar algum ponto menos importante. Vamos seguir em frente. Em algum momento, pais vão inquirir sobre a rotina dos filhos. Não vão parar nas questões sobre horário ou itens vetados na lancheira. Questões pessoais, dificuldades específicas, furúnculos serão levados ao plenário. “Meu filho demora demais a comer, tem problem?”, “Minha filha só gosta de morango fatiado, devo enviar a faca junto do lanche?”, “Meu filho não gosta de vestir bermuda, devo mandá-lo com a calça de ginástica para a educação física?”, “Minha filha só sai de casa depois da maquiagem, a escola proíbe a prostituição infantil?”.

O horror vai estar exposto na cara dessas pessoas. Virão casais bem estabelecidos, no qual a mãe parece uma satisfeita dona de casa e o pai parece “o pai” –na verdade, vai ter pouco pai e dificilmente algum deles vai destoar da imagem do pai de camisa e sapato, entre cioso e entediado.

As mães –fiz essas observações partindo do pressuposto de que eu era o Nhonho naquela classe de adultos, o que não significa em absoluto que eu não corresponda a elas–, as mães quase todas têm olhos arregalados e interessados e parecem andar na corda bamba da neurose. O menor sinal de palavras como “bisnaguinha”, “tesoura” ou “atividade” pode detonar o gatilho psicótico e fazer escapar questionamentos sobre como a escola “trata a questão” do dever de casa, do machucado em classe e do compartilhamento de brinquedos. As caras se revelarão preocupadas, as mãos se apertarão rumo ao abismo morar que é a criação dos filhos.

Como se comportar?

Se você for uma dessas pessoas com cara de noia, sugiro que faça perguntas e questione a escola sobre a higiene da máquina de sucos artificiais deles. Eu espero esse pessoal fazer todas as perguntas e tiro dúvidas que eu nem sabia que poderia ter. Se você parecer a mãe solteira da classe, não se preocupe: eles vão perceber.

Se você conseguir vencer a vontade de sacar o iPhone no meio da reunião, vai poder sobreviver a muita coisa pior na vida. O principal, nesse caso e em outros, é limitar a interação ao mínimo necessário –ou você vai acabar discutindo com a “mãe dos orgânicos” ou a “mãe do brincar” ou a “mãe do balé”. Se tiver como escapar à curiosidade, não vá.

Ainda acredito em conversas francas com quem lida diretamente com seu filho –a professora, a coordenadora, a ajudante de classe. Fora isso, não precisa avisar a todo mundo que seu filho não consegue beber suco sem canudinho: a culpa pode ser sua.